terça-feira, 14 de abril de 2009

Escatologia Paulina

Gostaria de saber mais sobre escatologia paulina – Maria de Lourdes Ribeiro

O apóstolo Paulo apresenta a doutrina das últimas coisas (escatologia) influenciado principalmente por três fontes: o Antigo Testamento, os ensinamentos do Senhor Jesus transmitido através dos apóstolos e por revelação direta de Deus a ele.

Temos que ter em mente que a escatologia de Paulo, bem como da igreja em seu tempo, não era cristalizada da forma que é hoje. Me refiro ao fato de hoje se ter um cronograma detalhado e bem definido sobre o assunto, isso independentemente de se tratar de escola pré, pós ou midi-tribulacionista. É comum se achar gráficos onde se mostra o momento da ressurreição, do arrebatamento, o tempo da grande tribulação, a forma do milênio, etc. a igreja primitiva não tinha um conceito tão bem definido assim. Estes conceitos foram surgindo à medida que se estudava os diferentes textos acerca das coisas futuras e se formava uma escatologia bem elaborada. O problema é quando as diferentes escolas de interpretação se chocam em seus ensinamentos e cada uma delas tem seus textos bases para sustentar seus ensinamentos. Eis uma razão pela qual se deve estudar o tema da escatologia com humildade, sabendo que qualquer interpretação é uma linha de pensamento que precisa de aperfeiçoamento e que não é a palavra final sobre nada. Aqui venho apresentando um estudo do Apocalipse, um estudo que apresento como uma possível interpretação e não como a única e definitiva interpretação. Fico a pensar nos estudiosos da Bíblia do tempo de Jesus. Eram homens que viviam somente para estudar e compreender o sentido das escrituras do Antigo Testamento. Quando Jesus apareceu, eles não o reconheceram como o Messias porque Ele não se encaixava em sua escola de interpretação da Bíblia. Eis o perigo de se cristalizar doutrinas acerca de coisas futuras. O fato é que certas coisas só foram compreendidas quando tiveram seu cumprimento. Assim será novamente, certas coisas só iremos entender quando acontecerem.

Tendo isso em mente, o que de certo se pode saber acerca do pensamento de Paulo bem como da igreja primitiva acerca dos acontecimentos futuros? Vamos lá.

1) A certeza da volta do Senhor:

Elas contam também como vocês estão esperando que Jesus, o Filho de Deus, a quem Deus ressuscitou, volte do céu, esse Jesus que nos salva do castigo divino que está para vir. (1 Ts 1.10)

Paulo fala da certeza da volta de Jesus possivelmente firmado no testemunho daqueles que presenciaram a Sua ascensão. Na ocasião, dois anjos garantiram que Jesus voltaria da mesma forma que o viram subir (At 1.9-11). Isso era um conceito novo para os que acompanharam o Senhor aqui na terra, pois, como judeus, eles acreditavam que o Messias viria para sentar-se no trono de Davi e reinar sobre o mundo todo a partir dele. Eles aprenderam que isto estava no futuro. A certeza da volta de Jesus para cumprir as profecias messiânicas se implantava na igreja.

2) A ressurreição dos mortos e o arrebatamento de alguns que estiverem vivos.

Mas a verdade é que Cristo foi ressuscitado, e isso é a garantia de que os que estão mortos também serão ressuscitados (1 Co 15.20)

Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados (1 Co 15.51,52)

O conceito de ressurreição dos mortos já era crença comum entre os judeus de formação farisaica como era o caso de Paulo. Os saduceus não criam na ressurreição dos mortos uma vez que não criam que o homem possuísse nada além da matéria e, uma vez que esta morresse, o homem simplesmente deixaria de existir. Jesus ratificou o ensino que era sustentado pelos fariseus de que os mortos iriam ressuscitar (Mt 22.31,32).

Já o conceito de arrebatamento era novo para a igreja e não é ensinado explicitamente por textos do Antigo Testamento. O conceito de que algumas pessoas não iriam passar pela morte, mas receberiam um corpo glorificado sem passar pela morte como aconteceu com Enoque e Elias, foi introduzido pelo Senhor (Mt 16.28; Mt 24.40,41) e explanado por Paulo. O quando isso vai acontecer já é tema de discussão dos teólogos. Uns acreditam que isso se dará antes da chamada “Grande Tribulação”, outros acreditam que será no meio dela e outros no final dela por ocasião da manifestação visível do Senhor. A única certeza é que haverá um arrebatamento, uma retirada repentina do povo de Deus aqui desta terra.

3) O surgimento do homem do pecado antes da volta do Senhor:

Ninguém, de maneira alguma, vos engane, porque não será assim sem que antes venha a apostasia e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus (2 Ts 2.3,4).

Paulo fala do aparecimento de alguém a quem ele chama de “homem do pecado” antes da volta de Jesus. É aquele a quem João chama de “anticristo” em suas epístolas (1 Jo 2.18) e de “besta” no Apocalipse (Ap 13.1). Provavelmente, Paulo se baseia nos escritos de Daniel, onde se fala do pequeno chifre que fala blasfêmias contra Deus e que faz guerra contra os santos (Dn 7.8 em diante). Nos tempos do Antigo Testamento se via o cumprimento desta profecia de Daniel em Antíoco IV Epifânio, imperador Sírio, que tentou acabar com o judaísmo e cometeu atrocidades contra o povo de Israel chegando a sacrificar uma porca no altar do templo e proibindo o povo de circuncidar seus filhos. Antíoco e os exércitos sírios foram derrotados pelos Macabeus. Foi Jesus quem deu um novo significado à profecia de Daniel ao falar da abominável desolação no lugar santo como algo ainda futuro (Mt 24.15). Paulo segue esta linha e interpreta o pequeno chifre como um personagem que surgiria num tempo futuro, pouco antes da volta de Jesus à terra.

4) A restauração da terra e do universo:

Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus. Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora (Rm 8.19-22).

Paulo acreditava que, da mesma forma que o pecado a queda atingiram toda a criação, toda ela também será restaurada pela manifestação da glória de Jesus em sua volta. Alguns chamam a esta restauração de milênio ou reino milenar. Outros vêm nisso uma descrição da eternidade. A afirmação de Paulo é que haverá uma restauração da criação seja lá como a chamarem.

5) O tribunal de Cristo:

Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal (2 Co 5.10)

Paulo fala do tribunal de Cristo onde o cristão comparecerá, não para colocar em questão sua salvação, mas para receber da parte de Deus o galardão segundo o que tiver feito. Trata-se de um conceito também introduzido pelo Senhor Jesus no sermão profético (Mt 25.19). Paulo desenvolve o tema e fala da certeza de que haveremos de prestar contas de nossas obras perante Cristo.

Eis ai uma síntese do pensamento escatológico do apóstolo Paulo.

É bom lembrar que certos assuntos foram ampliados e explicados pelos demais Apóstolos em suas epístolas e tiveram seu clímax no Apocalipse. Para termos uma noção mais completa da Escatologia da igreja primitiva temos que estudar o Novo Testamento como um todo e entender que o pensamento e o ensino de Paulo não entra em conflito com os ensinos dos demais Apóstolos. Na verdade, eles se completam.

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